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Biografia

O talento, a habilidade, a inteligência ou a genialidade não podem ser medidos: ou se tem ou não se tem.

Do futebol de rua a um dos melhores médios do mundo, hoje num clube da elite do futebol mundial. Cedo se percebeu que Bernardo Silva era especial e nem sequer a constituição franzina constituía obstáculo ao que se adivinhava viria a ser uma progressão brilhante. Porque o talento,
a habilidade, a inteligência ou a genialidade não podem ser medidos: ou se tem ou não se tem. E quando conciliados com a faculdade de pensar mais rápido do que os demais, de antecipar cenários ou de utilizar o corpo de palmo e meio de forma diferente de todos os outros, então o sonho idílico deixa de ser uma utopia. Mais a mais quando se coloca alegria no que se faz. Sempre.

As lembranças transportam-no para todos os espaços onde pudesse jogar futebol, mas sempre com a imposição, dos pais, de conciliar a actividade desportiva com a escolaridade. Entrou na Faculdade, no curso de Estudos Europeus, mas a licenciatura, mestrado e pós-graduação foram obtidos numa outra área, em primeira instância no Benfica, e, depois, no Mónaco e no Manchester City, onde é considerado o senhor doutor dos relvados de futebol.

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Toda a formação foi passada no Benfica (dos 7 aos 19 anos), onde se sagrou campeão júnior e, pela equipa B, considerado o melhor jogador da II Liga, tendo ainda sido um dos destaques maiores da selecção portuguesa de Sub-19 que disputou o Campeonato da Europa de 2013. Então como agora, aquele pé esquerdo era mágico e a sua inteligência recebia nota máxima, por ser tão acima da média. Não se estranhou, portanto, que a equipa principal do Benfica chamasse por ele, ainda que esporadicamente: participou em três jogos, um para o campeonato, outro para a Taça de Portugal e o último para a Taça da Liga, e isto até permitiu que ostentasse estes três títulos que o Benfica viria a conquistar.

Bernardo at Monaco Bernardo at Monaco

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Mas Bernardo não queria ser um jogador estanque ou um número. Queria mais. Queria oportunidade, queria crescer, queria evoluir, queria mostrar do muito que era capaz. Doze anos depois, o adeus à casa mãe e a primeira experiência no exterior chegava pela mão do Mónaco, ainda não tinha completado 20 anos. E aí afirmou-se como príncipe de uma equipa com uma admirável campanha na Champions League (em 2014/15 apenas caiu nas meias-finais diante da Juventus) e com o majestoso título francês que contrariou todas as previsões (2016/17). Foram três épocas, 147 jogos, 28 golos e um sem número de assistências que também o levaram à selecção principal de Portugal, onde se estreou em Março de 2015 e de onde nunca mais saiu, porque a arte tem sempre lugar garantido (excepção para a lesão que sofreu num treino em Maio de 2016 que o impediu de acompanhar Portugal ao Europeu de França).

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A paixão que deposita em campo, a que alia o talento inato, levaram-no a Manchester em 2017, com o City de Pepe Guardiola a reconhecer o génio de um Bernardo que saiu de França com a alcunha de “chewing gum” e o balneário do City já a adaptou para “bubble gum”, designação idêntica a pastilha elástica, que é o que Bernardo parece ter para colar a bola ao mágico pé esquerdo quando a recebe, quando a controla, quando a domina, quando progride com ela. Jogando em praticamente todas as posições do meio-campo para a frente, tomando sempre a decisão mais acertada, provocando desequilíbrios, conciliando técnica com fantasia, aumentando ou reduzindo a intensidade do jogo consoante as necessidades do momento, assistindo ou rematando para o golo ele mesmo. Mas também com a abnegação de uma extraordinária capacidade de trabalho, sendo simultaneamente um maratonista resistente e rápido, como ficou demonstrado no início de Janeiro de 2019, no jogo com o Liverpool, em que correu mais de 13,7 quilómetros (bateu o recorde da Liga), porque tem sempre o jogo colectivo da equipa como prioridade número um. Bernardo é tudo isto e muito mais, porque atingir a perfeição é possível mesmo na exigente e única Premier League, já rendida aos encantos do prodígio português.

Bernardo O Mágico Bernardo O Mágico
Campeão Liga Inglesa 2018/9 Campeão Liga Inglesa 2018/9

A simplicidade da humildade e sobriedade só espanta quem não o conhece e esse é um dos segredos para reunir um tão vasto número de conceituadas aclamações, dentro e fora do campo. Saiu de França ouvindo elogios não só em relação à sua mestria, como também à sua personalidade, ele que privilegia a família como poucos, que valoriza as pequenas e simples coisas da vida, que é pragmático e que despreza o acessório, que cultiva e alimenta a amizade, o companheirismo e a solidariedade, e que faz do humor e da boa-disposição um lema diário. Por isso todos, sem excepção, se rendem a ele. Lemar disse um dia que Bernardo não estava no mesmo planeta que os restantes, enquanto Sidibé considerou-o:

um pequeno fenómeno, capaz de eliminar dois ou três jogadores numa jogada. Sidibé, as monaco football player

No City, e com três títulos no ano de estreia e uma segunda temporada auspiciosa, Bernardo vinca cada vez mais a sua marca de água. É o Sir Bernardo, ou, como lhe chamou Mendy, “o Pablo Picasso, porque é realmente bom”.